Por Joelto Vieira, Colunista de Economia
Nas últimas semanas, o dólar tem mostrado sinais consistentes de enfraquecimento frente ao real. Desde o início do mês, a moeda norte-americana acumula uma leve desvalorização, sendo negociada atualmente na faixa dos R$ 5,41, após ter alcançado picos de R$ 5,60 em meados de maio. Esse movimento levanta uma velha questão entre investidores e poupadores brasileiros: é hora de dolarizar parte do patrimônio?
A resposta, como quase tudo em economia, não é simples. Vai depender do perfil do investidor, de seus objetivos financeiros e, principalmente, de como ele entende a relação entre risco, proteção e oportunidade.
A dinâmica da queda do dólar
A queda recente do dólar não é um fenômeno exclusivamente doméstico. Ela é resultado de uma combinação de fatores:
- Política monetária dos EUA – O Federal Reserve (Fed) tem sinalizado uma possível pausa ou redução no ritmo de alta dos juros, à medida que os dados de inflação mostram desaceleração. Juros mais baixos nos EUA tornam os ativos americanos menos atrativos, pressionando o dólar para baixo.
- Fluxo estrangeiro para países emergentes – Com menor atratividade nos EUA, o capital busca oportunidades em mercados como o Brasil, especialmente na renda fixa e variável. Isso fortalece o real e derruba o dólar.
- Commodities e balança comercial – O Brasil segue com saldo positivo nas exportações, principalmente de grãos e minério de ferro. Isso também aumenta a entrada de dólares no país, favorecendo a moeda local.
Dolarizar ou não dolarizar?
Dolarizar o patrimônio significa converter parte dos ativos — geralmente em reais — para ativos atrelados ao dólar. Pode ser em forma de contas em dólar, fundos cambiais, ETFs internacionais, ações de empresas estrangeiras ou até imóveis fora do país.
Vantagens da dolarização:
- Proteção contra crises locais: Em momentos de instabilidade política ou econômica no Brasil, o dólar tende a se valorizar como ativo de proteção.
- Diversificação internacional: Ter parte do patrimônio em outra moeda dilui riscos concentrados no mercado brasileiro.
- Exposição a ativos globais: Permite investir em empresas líderes mundiais, como Apple, Amazon, Microsoft, que não estão disponíveis na B3.
Desvantagens:
- Momento cambial desfavorável: Com o dólar em baixa, pode-se comprar agora e ver o ativo desvalorizar mais no curto prazo.
- Rendimento inferior no Brasil: A taxa Selic ainda está em patamar atrativo, enquanto o juro real em dólar é menor. Assim, aplicações conservadoras em reais podem ter retorno superior a ativos dolarizados.
- Tributação e custos: Fundos internacionais e investimentos no exterior envolvem IOF, IR diferenciado e, muitas vezes, taxas de administração e custódia maiores.
O que diz o bom senso?
A dolarização total do patrimônio raramente é aconselhável para o investidor comum. Porém, manter uma exposição parcial ao dólar, entre 10% e 30% dos investimentos, é uma estratégia prudente — principalmente para quem tem objetivos de longo prazo ou pretende consumir em moeda estrangeira (como viagens, estudos no exterior ou aposentadoria fora do país).
A regra básica da boa gestão patrimonial é a diversificação. Apostar todas as fichas no real é tão arriscado quanto abandonar completamente a moeda brasileira. O dólar, mesmo em queda agora, continua sendo a principal reserva de valor global, e o cenário pode se inverter com uma reviravolta geopolítica, uma desaceleração brusca da China ou um novo ciclo inflacionário.
Conclusão
Apesar da recente queda do dólar, dolarizar parte do patrimônio ainda faz sentido como proteção — não como especulação. O investidor que entende o valor da diversificação cambial não precisa acertar o “fundo” da cotação para se beneficiar no longo prazo. O importante é ter uma estratégia clara, alinhada com seus objetivos, e evitar decisões baseadas apenas em manchetes ou movimentos de curto prazo.